– A Lei assusta... A Lei é curta e difícil...
– Bem dizes, irmão, pois a Lei contém tudo em essência; ela ordena que se não cometam idolatrias; ela concita à mais perfeita conduta social; ela afirma a Revelação como sendo o instrumento de advertência, ilustração e consolo. Onde estiver a criatura inteligente, ali estará alguém que sabe ver na Lei a importância e a grandeza de se amar a Deus em Espírito e Verdade; ali estará quem sabe o que é ser decente na conduta social, para merecer de Deus as melhores graças; e ali estará quem sabe para o que serve a Revelação. Tens muita razão ao dizer que a Lei é curta e difícil; realmente, Zainer, a Lei contém o germe de todos os chamados Livros Sagrados, porque encerra as três máximas lições – como Deus deve ser amado, qual a conduta social entre irmãos e, por fim, como devemos encarar a graça que é a Revelação.
– Por ter sido veiculada pela Revelação?
– Justamente, Zainer, se não fosse a comunicabilidade dos espíritos, quantas verdades a menos conheceríamos?
– Eu sou pobre nessas coisas, bem sabes...
– Observa, em síntese, o que a Revelação ensina sobre Deus, a Criação, as leis regentes e as finalidades de tudo quanto faz parte da Criação, seja espírito ou matéria. Acima de tudo, lembremos o que tem ensinado sobre a necessidade de Moral, a importância total que tem na edificação do espírito, em sua obrigação de cristificação íntima. Não esqueçamos, também, que lembra ao espírito a sua condição de imortal, evolutível, responsável, reencarnável, comunicável e passível de habitar os mundos. Enfim, Zainer, a Revelação é quem é, porque sempre foi, o instrumento de advertência, ilustração e consolo. Desde priscas eras que vem ela esclarecendo as criaturas, do melhor modo, enquanto os religiosismos, os cleros, as oligarquias idólatras, ditas religiões, tudo fazem para desviar a Humanidade do rumo certo, dos verdadeiros ensinos.
– Então – inquiriu Zainer – você não acha que todas as religiões são boas?
Félix abanou a cabeça e sentenciou:
– Eu acho que todos devem procurar ser criteriosos, corretos discernidores, a fim de se fazerem dignos conhecedores da Verdade que livra. Em nome de Deus, meu irmão, todos os crimes já foram praticados. Basta que se aplique uma idolatria, ou se faça um tribofe, ou se arme uma arapuca, contanto que seja em nome de Deus, do Cristo e do Bem, chega para ser religião, basta para atrair gente crédula. Ora, a Verdade que livra jamais estará com tudo isso, porque ela não é amolgável ao chicanismo humano. Cumpre, portanto, a cada filho de Deus, procurar conhecer as melhores verdades, dentre todas aquelas que se fazem evidentes, a fim de poder ir atingindo o máximo em demanda à Verdade Total, à consciência da Unidade. Este é o estado de união, de sintonia com o Pai Divino, a que todos os filhos devem chegar por desenvolvimento íntimo, por iluminação interna.
Até certo ponto concorde, Zainer comentou:
– Quero entender, Félix, que haja diferença entre a Verdade e as religiões; é impossível que a Verdade, ou Deus, ande em harmonia com as religiões ou seus senhores. Nunca pude estar de acordo com as concepções humanas, com os ritos, com os sistemas inventados pelos cleros, como sendo aquilo que possa valer ao espírito, na hora em que tenha de se apresentar e responder pelos seus atos. Devo dizer, também, que tenho lido o último capítulo do Apocalipse, por instância de um espírita, encontrando ali afirmativa severa sobre o comportamento de cada um, para efeito de responsabilidade.
– Neste caso – argumentou Félix – não te é fácil reconhecer que a responsabilidade é individual, segundo as obras de cada um e não segundo os conceitos errados que venha a endossar? Isto é, que cada qual terá que responder por si, pelos seus atos, sem pretender que rituais possam livrá-lo de faltas cometidas?
Zainer silenciou, meditou e terminou dizendo:
– Bem, meu irmão, eu creio que haja uma Lei, uma vontade de Deus, Suprema e acima de cogitações, que não se envolva nas bagunças que os cleros inventam, bagunças que pretendem eles, possam valer como meios de libertação espiritual. Andei lendo, como disse, o Evangelho, tendo chegado a compreender que Jesus definiu perfeitamente a responsabilidade de cada um, segundo suas obras.
Félix exultou, exclamando:
– Bravos! Em Jesus você encontrará sempre as três verdades básicas – a Lei que dignifica, o Amor que diviniza e a Revelação que adverte, ilustra e consola; se, portanto, quiseres conhecer a Verdade que livra, anda sempre por esse caminho, nunca te esqueças de prestar atenção aos deveres que te cumprem. E terás, conseqüentemente, elementos de sobra com que contar, para não cair em confusões. Porque, Zainer, toda a obra de Jesus foi apenas um simples testemunho das três virtudes fundamentais que a Lei de Deus contém. Pelo menos para mim, confesso, nada vejo no Cristianismo, na Excelsa Doutrina, mais do que Lei, Amor e Revelação. Jesus, que foi apresentado como Divino Modelo, nada mais fez do que exemplificar o respeito que todos os filhos devem às leis regentes que o Pai estabeleceu. Podes observar, portanto, que importa conhecer as leis, para aplicá-las, sem se importar com os religiosismos humanos, sempre inventados para encher a pança, o bolso e fartar as vaidades daqueles que se dizem ministros de Deus, que são apenas ministros de si mesmos, pois aqueles que transformam a fé em meio de vida jamais serão fiéis servos da Verdade.
– Então – concluiu Zainer – temos por obrigação afirmar que as religiões e a Verdade não andam de mãos dadas?
Ponderoso, Félix acrescentou:
– Todos os movimentos humanos tiveram seus demagogos; e a Religião, o verdadeiro culto da Verdade, não poderia ficar imune. Os religiosismos, os cleros, as traficâncias formalistas, tudo isso é demagogia. Deus, a Verdade, o Cristo e tudo quanto tenha acento merecedor de respeito, têm servido para garantir a função dos chicanismos humanos. Eu sou contra, eu fico à margem de tudo aquilo que não constitua respeito prático em favor da Lei, do Amor e da Revelação. E, para isso, como poderás analisar, não há necessidade de mercantilismos, porque essas virtudes ou leis, são de ordem íntima, nada devem aos sindicatos da mentira que se dizem religiões.
Zainer entusiasmou-se, proclamando:
– Agora começo a entender a coisa! Para ficar bem com a Verdade é preciso que se rompa com a mentira. E para fazer isso, ou conseguir isso, faz-se mister muito esforço, muita análise e devotamento à Verdade, porque as criaturas estão por demais viciadas no culto da idolatria e dos erros que passam por religião.
Extraído do Livro: Nos Domínios Maravilhosos da Psicometria
Osvaldo Polidoro
Princípio Sagrado ou Deus
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